A história de um exagerado

Agenor de Miranda Araújo Neto ou Cazuza foi, ao lado de Renato Russo, um dos maiores poetas do rock nacional. Nascido em 04/04/1958, em 1981 foi apresentado, por Léo Jaime, àqueles que seriam seus parceiros ao estrelado: o Barão Vermelho, que tocava um rock visceral e barulhento, bem ao estilo exagerado de Cazuza. Na época os garotos (Frejat e Guto, os mais velhos, tinha apenas 19 anos) tocavam covers dos Stones e do Led Zeppelin, mas Cazuza trouxe seu caderninho de poemas que, com a ajuda de Frejat e seus acordes, foram musicados, revolucionando o rock nacional e tornando-os a versão brasileira dos Glimmer Twins (Jagger e Richards dos Stones). Foram uma fábrica de hits: “Todo amor que houver nessa vida”, “Pro dia nascer feliz”, “Maior abandonado”, “Bete Balanço”, “Pro dia nascer feliz” entre muitos outros.

Em 1985, Cazuza parte em carreira solo, que foi impulsionada pelo sucesso crescente do Barão Vermelho, bem como as versões de suas músicas gravadas por estrelas da MPB (Caetano Veloso com “Todo amor que houver nessa vida” e Ney Matogrosso com “Pro dia nascer feliz”). Neste mesmo ano saia o LP “Exagerado”, que, como em todas as suas músicas, era a sua própria imagem representada em versos e acordes. Em 1987, era lançado “Só se for a dois”, no qual Cazuza começou a voltar as suas raízes na MPB. Com este disco foi novamente um precursor ao mesclar rock e MPB estilos que só iriam ser aceitos juntos na década de 90. Em maio deste mesmo ano, Cazuza descobriria ser soro-positivo, porém, só admitiria a doença dois anos depois. Mesmo escondendo a doença publicamene, nunca se abateu e continuou lutando pela vida como nunca.

Em 1988, lançava o 3º disco: “Ideologia” no qual metia o dedo na ferida: “Senhoras e senhores/Trago boas novas/Eu vi a cara da morte/E ela estava viva” anunciava a canção “Boas Novas”; “O meu prazer/Agora é risco de vida” gritava à todos em “Ideologia” composta com seu eterno parceiro: Frejat. Este disco, o melhor de toda a carreira de Cazuza, era repleto de pérolas: “Blues da Piedade”, “Um trem para as estrelas”, “Brasil” e a belíssima “Faz parte do meu show”.

Mesmo debilitado pela doença, leva “Ideologia” aos palcos mostrando muita coragem e vontade de viver. Este show se transformou em seu 4º LP: “O tempo não para”, gravado no Canecão, RJ nos dias 14, 15 e 16 de outubro 1988, que trazia, além de seus velhos sucessos e os hits consagrados de “Ideologia”, duas músicas inéditas na voz de Cazuza: “Vida louca vida” composta por Lobão Bernado Vilhena e “O tempo não para” composta em parceria com Arnaldo Brandão.

Em 1989, com a doença em seu estado mais avançado, Cazuza só saia do hospital, às vezes em uma maca, para gravar o novo disco ou em momentos muito especiais, como a entrega do Prêmio Sharp no qual ganhou os prêmios: melhor disco, melhor música “Brasil”, prêmios que recebeu em uma cadeira de rodas. O disco gerado em condições dramáticas seria o disco mais difícil de Cazuza. O álbum duplo “Burguesia” chegou às lojas em 21/08/1989. O disco, muito difícil de interpretar na época do lançamento, traz algumas pérolas de Cazuza como “Perto do fogo” composta com Rita Lee, “Cobaias de Deus” com Ângela Ro-Rô”, e a belíssima música de despedida “Quando eu estiver cantando”, que explicitamente era a música que fechava o disco.

Lutando até o final exageradamente como era o seu estilo, Cazuza pararia de cantar às 08h30m do 7 de julho de 1990, tendo sido enterrado neste mesmo dia em Ipanema. Era a morte de um poeta que viveu exatamente o que cantava em seus versos, uma vida louca e exagerada.